Às marcas do tempo.


É melhor ir se acostumando, você não é e nunca vai ser quem dizem por aí. O tempo vai passar e com ele algumas partes de você ficarão para trás, seu corpo de menina, o jeito do cabelo, rugas chegaram para te fazer lembrar que não é imortal, o espelho irá te assustar cada vez que olhar para ele fazendo se recordar de alguém quem não queria ser. 

Talvez o mundo faça você acreditar que se tornou uma fracassada, por não ter concluído a faculdade de direto que iniciou e trancou por incontáveis vezes, talvez você mesma acredite por ter se tornado mãe tão cedo ou quem saiba o seu casamento abusivo te faça enxergar a vida com outras perspectivas, fazendo chorar todas as noites, lutando contra os vereadores monstros debaixo da cama e dessa vez não tem ninguém para acalma-la e dizer que estar tudo bem, porque afinal, não está.

A vida não foi e não é fácil para você, não vou te condenar por tudo que não quis viver. Não pretendo te culpar pelo pai do teu filho que te abandonou bem antes do menino nascer. Não vou te culpar e nem posso te julgar pelo círculo social em que nasceu, sem te dar oportunidades, podando as esperanças muito cedo.

Não posso e nem devo, fechar os meus olhos diante do que fizeram com você durante anos, negligenciaram os seus direitos, te usaram como moeda de troca, diminuíram o teu valor. 

Hoje, diante dessa pátria, tentamos reconhecer a sua trajetória de luta de uma maneira bem modesta, paramos para agradecer e dizer que mesmo que a sociedade não reconheça o seu verdadeiro valor e banalize o seu sofrimento, não julgaremos e não culparemos pelo erro que não foi e nem é teu, mulher.


Autora: Jonatielen Silva e Silva 


                                                                

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